Caminheiros da Gardunha, a caminhar desde 1997 por diferentes percursos mas sempre com o mesmo sentido - o interesse pela Natureza e a defesa da Serra da Gardunha.                 

Na Rota das Faias, em Manteigas


No passado Domingo fomos até à Rota das Faias de Manteigas (PR13MTG), um percurso que, nesta altura do ano, oferece um cenário que parece ter sido retirado de um conto de fadas. As encostas que cercam a vila de Manteigas estão repletas de árvores caducifólias (castanheiros, carvalhos, faias, ...) que no Outono pintam a paisagem com amarelos, dourados e castanhos.

O percurso realizado esticou um pouco o PR13, num total de pouco mais de 10km.


Embora a ameaça do mau tempo tenha levado a muitas desistências, São Pedro acabou por ser simpático para o grupo de corajosos que decidiu ainda assim fazer a caminhada e esta acabou por ser uma jornada bastante animada e com várias surpresas. No final, para recuperar forças, nada melhor que um almoço em que o prato principal foi a especialidade local das feijocas. No final o sentimento era comum a todos: valeu a pena!

Aqui ficam algumas das inúmeras fotos tiradas pelos participantes ao longo do percurso:

Saindo de Manteigas.


Prestes a iniciar a subida que nos levaria ao posto de vigia e à capela de São Lourenço, um santo com a particularidade de segurar... uma grelha. Como noutras paragens, também a imagem deste santo teimou em ser ela a escolher o local onde hoje se ergue a capela, desaparecendo do local onde a população inicialmente lhe prestou culto para aparecer sistematicamente onde hoje se encontra.


O Sr José, pastor de profissão e já um velho conhecido de muitos do grupo, recebe sempre os caminheiros com simpatia, apesar de algumas situações menos agradáveis de que nos deu conta.


O último repouso antes de dar os primeiros passos à sombra das faias. 


Sob as faias, o cenário era este.


Contrastes e escalas.


Junto ao posto de vigia fizemos uma pausa para retemperar forças e onde se partilharam alguns petiscos que bem souberam. A dada altura o som dos chocalhos anunciou a chegada de um rebanho que foi precedido por 4 guardas de meter respeito. Dois deles decidiram vir confraternizar connosco e, com ar pedinchão, provar também um pouco da merenda.


Terminada a partilha de comida, umas festas também não souberam nada mal.


Foto de parte do grupo com o Sr. Tó Querido, o pastor que guardava o rebanho e uma figura bem conhecida destas paragens e de cujo discurso ágil e espirituoso ficámos fãs. Já agora, a título de curiosidade, ele foi um dos vários pastores que Jorge Pelicano entrevistou no excelente documentário "Ainda há pastores?" (ver aqui).


De volta ao caminho, com o nevoeiro a acompanhar-nos, rumo à Cruz das Jogadas


A partir da Cruz das Jogadas, avista-se todo o vale até Manteigas.

Retrato (quase) completo do grupo. No final, todos faziam a mesma pergunta: Quando é a próxima?


Fotografias tiradas por: 
Pedro Brito, Nuno Baptista e António Simões

A Gardunha engalanou-se como o exige o Outono

No último fim-de-semana, como não podia deixar de ser, realizámos a habitual caminhada de Domingo. Desta vez, tivemos o prazer da companhia de um amigo recém-chegado da Eslováquia, que se juntou a nós com o propósito de conhecer melhor a região. Decidimos presenteá-lo com a magnífica visão da Cova da Beira a partir da Pedra d'Hera (esta num estado, infelizmente, menos digno), percorrendo o extenso souto do monte de São Brás, devidamente engalanado como o exige o Outono.

Aqui ficam dois registos dessa caminhada, pela lente sempre atenta da Mafalda. 



No próximo Domingo dia 23, como já foi dito aqui, iremos até à Serra da Estrela para percorrer a Rota das Faias, em Manteigas. A concentração, para quem vai do Fundão, está marcada para as 7h30 no Largo da Sra da Conceição. O ponto de encontro em Manteigas será junto ao restaurante "Santa Luzia", pelas 8h30.

Fotos por Mafalda Salvado, sócia nº 356

Na XIV edição da Mostra de Artes e Sabores da Maúnça


Deixando a Serra da Gardunha (mas mantendo-a à vista sempre que possível), fomos no último Domingo até à acolhedora aldeia do Açor, na Serra da Maúnça, onde decorreu a XIV Mostra de Artes e Sabores da Maúnça. O percurso de 6,5km iniciou-se na aldeia da Enxabarda, por entre casarios de xisto, passando depois por uma paisagem onde as encostas de pinhal, entre-cortadas por terrenos delimitados por muros em xisto, foram a pouco e pouco dando lugar a castanheiros. À chegada esperavam-nos deliciosas iguarias que nos ajudaram a recuperar forças.



Um dos momentos de pausa que não o foram. À medida que os caminheiros iam chegando, o cansaço desaparecia perante a visão das castanhas ali à mão de... apanhar. 


A chegada ao Açor com uma belíssima paisagem que se estende a perder de vista.

A foto da praxe, junto a um dos belíssimos recantos da aldeia.



À chegada, fomos surpreendidos pelos bombos do Rancho Folclórico do Souto da Casa, um comité de recepção de altíssimo nível! Voltaram a brindar-nos com a sua animação à hora do almoço, enquanto nos deliciávamos com algumas iguarias servidas pela Tasca do Ribeiro.


Açor, sinónimo de hospitalidade

Esta festa anual destaca-se pela forma como os habitantes da aldeia do Açor se esforçam, ano após ano, para a manterem genuína, fiel ao seu conceito original de festival de comida típica num ambiente acolhedor, quase familiar. Há regras de ouro: os produtos têm que ser caseiros, a castanha tem que estar presente em cada tasquinha, seja na forma original, de doces ou -claro está!- na forma líquida e os visitantes têm de deixar o Açor satisfeitos e com vontade de regressar. 

Este é também um evento de reencontro dos filhos do Açor já que muitos aproveitam a oportunidade para percorrerem os caminhos da emigração em sentido inverso, vindo também dar o seu contributo para que tudo corra bem.



Este ano os Caminheiros da Gardunha tiveram o seu próprio espaço durante o evento.


Uma novidade! Os porta-chaves e pregadeiras em forma de castanha, fruto do trabalho conjunto da Isabel, da Débora, da Ana e da Cristina, que muitos fizeram questão de levar para casa.


Os magustos tradicionais são momentos-chave da festa. À sua volta partilham-se as castanhas, que o calor faz saltitar de mão para mão, e uma belíssima jeropiga. 

Quando tudo chega ao fim, fica inevitavelmente uma sensação de nostalgia mas também a certeza de que é tempo de recomeçar a contar os dias até à próxima Mostra de Artes e Sabores. Um sentimento que as palavras do nosso Diamantino traduzem na perfeição:

"Voltou o sossego, a calma, que a chuva miudinha ajuda a sentir. O Açor cala o frenesim de dois dias e outros mais, para quem produziu e fez os tesouros gastronómicos que foram servidos nos dias da Mostra de Artes Sabores da Maunça. Alguns dos seus aqui vieram, só para participar com o seu trabalho e alegria. Uma tradição que não se mede pelos milhares de visitantes mas sim pela qualidade do que se compra e saboreia. Visitante que conhece já, e trata as pessoas pelo nome, num convívio fraterno, único pelos motivos que em tudo transforma a aldeia plantada na Maunça, da qual se orgulham e tanto sabe receber. 

Aqui se vem para repetir sensações e sabores, outros recordam e visitam familiares por isso também é a festa da fraternidade. Quando voltarem dias melhores e quando voltar alguma da justiça social que nos roubam, a festa crescerá: mais alegria, mais, e mais gente…."


Agradecimentos

Como o impõem a gratidão e a mais elementar justiça, os Caminheiros da Gardunha agradecem a todos os que contribuíram para a realização da caminhada e ainda para a nossa presença permanente nos dois dias da Mostra de Artes e Sabores da Maúnça. São eles: a Associação Recreativa e Cultural do Rancho Folclórico "Pastores do Açor", a Junta de Freguesia do Castelejo, o Sr. Joaquim, o inexcedível pessoal da Casa da Avó e da Tasca do Ribeiro e ainda o Sr. Alberto Guedes, da Câmara Municipal do Fundão. Por um último, um agradecimento especial à população do Açor pela hospitalidade com que nos acolheu.

Caminhada ao redor do Monte de São Brás


A caminhada do último Domingo levou-nos num passeio ao redor do monte de São Brás, já a vestir-se em cores de Outono. A meteorologia bastante favorável tornou o percurso ainda mais agradável à medida que alternávamos entre as paisagens de pinhal, souto e pomares de cerejeiras, também estas a querer competir com os castanheiros nas cores douradas.

O percurso: 7,5km

Muito mais que apenas mais um monte

O monte de São Brás é, para além de um local belíssimo onde se vive e respira natureza, também um sítio com muitas histórias para contar. Nem toda a gente sabe que, sob os castanheiros, se escondem os vestígios de um castro, uma povoação fortificada que foi habitada pelos nossos antepassados "lusitanos", há cerca de 3.000 anos atrás, e que se encontrava protegida por duas imponentes cinturas de muralhas. Estas são ainda hoje bem visíveis, sobretudo para quem chega ao monte vindo do sítio dos "4 caminhos".

O belíssimo caminho que passa pelo cume do monte, devidamente atapetado

Também neste monte existiu uma capela dedicada a São Brás, construída antes do ano 1395, data em que foi pela primeira vez mencionada. Abandonada e mais tarde usada como estábulo, acabaria por ser destruída no século XVII ou XVIII por ordem bispal.


Na zona do pinhal do monte de São Brás, alguns caminheiros detêm-se para admirar a vista para Alcongosta junto a uma laje com "covinhas". Esta laje terá tido um significado ritual importante para os antigos habitantes do monte.

Nunca é demais dizer que quem quiser participar nas caminhadas de Domingo é muito bem-vindo. Todas as semanas realizamos um percurso diferente, variando também nos níveis de dificuldade. No próximo Domingo a caminhada muda de cenário para a Serra da Maúnça conforme podem ler clicando aqui, num percurso que irá ligar a Enxabarda ao Açor onde decorre a XIV Mostra de Artes e Sabores da Maúnça. É preciso dizer mais?

Fotos por Mafalda Salvado, sócia nº 356